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18 de Abril de 2024

Democracia roubada. Um país enganado e humilhado

Derrotados sucessivamente nas urnas e envolvidos em escândalos negligenciados pela mídia e pelo Judiciário, eles deram o golpe.

Publicado por Carla
há 8 anos

Democracia roubada Um pas enganado e humilhado

Por Redação RBA

Para o semanário alemão Die Zeit, o afastamento de Dilma Rousseff foi “declaração de falência do Brasil”. No mesmo país, o site do jornal Der Spiegel, sob a manchete “Um país perde”, observou que o drama em torno da presidenta “é um vexame”, e que os políticos brasileiros apresentaram um “espetáculo indigno a prejudicar de forma duradoura as instituições e a imagem do país”.

No The Guardian, os ingleses leram, sobre Dilma: “Traída por seu companheiro de chapa, condenada por um Congresso contaminado por corrupção e insultada pelo abuso que sofreu como prisioneira da ditadura militar, sofreu um grande golpe”.

O afastamento de um governo por meio de impeachment sem crime é apenas uma face do golpe que humilhou o Brasil. A outra será o pesadelo representado pelo “novo” governo. A temporada de terror com objetivo de inviabilizar o projeto eleito em 2014 começou ainda na eleição, acirrou-se durante os 131 dias de segundo mandato e culminou com a imposição de um governo ilegítimo.

Montada pelos partidos conservadores – sem voto para eleger presidente, mas com farto patrocínio para dominar o Legislativo – com a cumplicidade de setores do Judiciário, a aventura golpista impõe um programa derrotado. Com a tradicional parcialidade da imprensa comercial, o tema da corrupção em breve será esquecido tão logo se esgote a caça aos petistas.

Antes de o golpe se consumar, pesquisas de opinião já apontavam grande rejeição a um comando de Temer. Não é para menos. Em outra investida da imprensa estrangeira, a britânica BBC levantou sua ficha.

Foi citado por delatores da Lava Jato, que apontaram relações do ex-vice com pessoas e empresas que participaram do esquema de corrupção na Petrobras, como as empreiteiras OAS e Camargo­ Corrêa. Nesta, aliás, segundo a BBC, a Polícia Federal encontrou em outra operação, Castelo de Areia, documentos que citam 21 vezes o nome de Temer ao lado de quantias que somam US$ 345 mil. Nem esta operação valeu para o Superior Tribunal de Justiça, nem a Procuradoria-Geral da República pediu investigação ao Supremo Tribunal Federal.

O Tribunal Superior Eleitoral também não admitiu incluí-lo nas quatro ações que o PSDB moveu para tentar cassar Dilma. Tampouco o ex-presidente da Câmara aceitou a cumplicidade do ex-vice nas “pedaladas” que assinou quando substituiu a titular. E nem mesmo a decisao do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo que o julgou ficha-suja por irregularidades que praticou em campanhas eleitorais de correligionários atrapalhou sua posse.

A aliança formada para dar sustentação ao golpe também não é lá modelo de confiabilidade. Quase todos os partidos que infernizaram os governos Lula e Dilma por dentro, como integrantes da “base aliada”, indicaram nomes ao “novo” ministério e permanecem governistas. Com o agravante reforço da dupla PSDB-DEM, responsável pela cartilha neoliberal nos anos 1990.

Assim, o que esperar de nomes como Alexandre de Moraes no Ministério da Justiça – e portanto no comando da Polícia Federal? Aos inimigos, perseguição; aos amigos, como Geraldo Alckmin, Aécio Neves, Beto Richa – que têm em comum a plumagem tucana e gestões envoltas em denúncias não investigadas de roubalheira –, blindagem.

Na dúvida, falam por si sua atuação como secretário da Segurança Pública de Alckmin em São Paulo, estado onde o genocídio de jovens negros e pobres espanta o mundo e a repressão a movimentos sociais e da juventude lembra os piores momentos da ditadura. Ou como advogado de clientes que vão de membros do PCC a Eduardo Cunha.

Além do fato de que 350 deputados, 60 senadores e seis integrantes da equipe ministerial de Temer têm o nome envolvido em alguma investigação, as figuras de ­José Serra no Ministério das Relações Exteriores, Henrique Meirelles na Fazenda e Romero Jucá no Planejamento não trazem bons presságios.

O primeiro é um dos mentores das privatizações durante os governos de Fernando Henrique Cardoso, e está presente em denúncias de negócios impuros jamais investigadas, reunidas a fundo no livro-reportagem A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Júnior. Defensor da entrega do pré-sal a companhias estrangeiras, sua história o levou a perder duas eleições presidenciais, em 2002 e em 2010. Sua indicação significa distanciamento dos Brics, da América Latina e da África. E a volta à subordinação aos Estados Unidos.

Meirelles comandou o Banco Central durante quase toda a era Lula. É adorado no mercado financeiro, recusou cargo no segundo governo Dilma (agora se sabe por quê) e deve começar a colher nos próximos meses os frutos do ajuste fiscal que minou a popularidade da presidenta afastada. Os primeiros deles, a queda da inflação e da taxa de juros. O banqueiro é quer reforma previdenciária que eleve o limite de idade, reforma trabalhista e não aprecia a política de valorização do salário mínimo.

Jucá é referência da bancada ruralista. Foi líder do governo que traiu no Senado, tentou o quanto pôde alterar a conceituação de trabalho escravo e transferir do Executivo para o Legislativo a prerrogativa sobre demarcação de terras indígenas. Foi cúmplice das “pedaladas” que derrubaram Dilma e terá como colega na Esplanada o sojicultor e bilionário Blairo Maggi, ávido “ativista” pelo fim do licenciamento ambiental.

Estão, enfim, recompostas as forças políticas que durante a era FHC fizeram do desemprego, do arrocho salarial e dos ataques aos direitos dos trabalhadores as âncoras da estabilidade econômica sem distribuição de renda e da política fiscal sem desenvolvimento. De volta ao poder, sem voto, e prontas para voltar à carga. O cenário exigirá dos movimentos sindical e sociais, e partidos ligados a causas populares, ampla unidade para organizar a resistência aos retrocessos.

Estão aí os renovados movimentos da juventude por educação e cidadania a servir de exemplo. Sem perder de vista a mobilização da sociedade de ocupar todas as frentes de ação – no Parlamento, na Justiça e nas ruas – para que a ordem democrática se restabeleça nesses 180 dias derradeiros para que a presidenta eleita retome seu devido lugar.

Rede Brasil Atual (RBA)

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7 Comentários

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Interessante perceber que todas as fontes internacionais citadas, rezam pela cartilha marxista: BBC, The Guardian, etc. Será que são modelo de isenção?

Será que foi descuido, mesmo, pois não vi nenhuma citação a respeito do "golpe" sobre o ponto de vista do The Telegraph, o Daily Mail, o Financial Times, apenas para exemplificar.

Voltando o foco para terra "brasilis", é importante não esquecer que boa parte do PMDB, como o Sr. Romero Jucá, fez parte do apoio político de que se valeu o PT ao longo de seus 13 anos no Planalto. Se eles só deixaram de prestar a partir do momento que romperam com o PT, então isso é sintoma de hipocrisia crônica.

Quanto ao ilustre constitucionalista, Alexandre de Moraes, ele tem que fazer o que está previsto na lei: se é crime para os caminhoneiros interditarem as estradas para protestar, então é igualmente crime a atitude de MST e assemelhados que "protestam" nas citadas vias de transporte.

Fica o registro: o pau que dá em Chico, dá em Francisco! continuar lendo

Se o pau batesse em todos as fortunas seriam taxadas. Tem uma riqueza enorme que passa de geraçao em geraçao e ninguem paga imposto.
Como o Estado vai cumprir sua funçao com tamanha sonegaçao fiscal? continuar lendo

Infelizmente voltamos a ser uma colônia !!!! :(submissos aos interesses da grande nação do norte. Nas palavras de serra estados unidos do Brasil ou Brasil dos estados unidos.) continuar lendo

Ainda nao chegamos no fim da picada, Maximiliano Zapata!
Tem luta! Resistência!
Aproveito para dar uma dica para aqueles e aquelas que quiserem ler o A Privataria Tucana (pdf), do jornalista Amaury Ribeiro Junior:
http://militanciapoliticaeafins.blogspot.fr/2014/11/download-do-livro-privataria-tucana.html continuar lendo

Carla, é verdade a luta não terminou, mesmo não sendo brasileiro e apenas um estudante universitário estrangeiro, eu me sinto muito ultrajado, ou seja, (e me permita, por favor, utilizar a linguagem popular) muito mal mesmo. Ver perder a democracia e ao mesmo tempo ver os piores corruptos no poder, de maneira golpista, é deprimente, ainda mais que nesta rede grande parte do pessoal formado em "direito" e áreas afins apoia (pelas manobras jurídicas) o GOLPE. Ver todo dia a caça a bruxas é preocupante. MAS MUITO OBRIGADO PELO LIVRO, tentei comprar mas não consegui. GRACIAS MUCHAHCA. continuar lendo

É vergonhoso o que assistimos agora neste (des) governo interino do temerário Temer, uma quadrilha de sujeitos do mais baixo nível, que tomou de assalto o poder legitimado pelas urnas, 54 milhões de votos. Mas não pensem eles que estão no poder. Toda a canalhice e covardia não ficarão impunes. Ninguém em sã consciência aprova estes bandidos. Eles (os calhordas, traidores e covardes) não prosperarão em seus atos perversos. O Povo dará a última palavra, apesar daqueles que querem se enganar. continuar lendo

Nossa democracia foi perdida a tempos, o afastamento da Sra. Dilma nada mais é do que consequência do tipo de política que vem sendo exercida no Brasil. Uma política de corrupção, conchavos e relações compradas no quem paga mais leva. Nosso país está contaminado pelo viírus da ganância e falta de moral e caráter. Tem sido uma vergonha atrás da outra em todas as áreas, políticas públicas imorais e deformada de caráter. Tudo tem se apresentado com deformidade e uma falta de ética vergonhosa e imoral. Falo com tristeza porque AMO meu país, e me doe ver nosso povo massacrado pelos governantes. É lamentável! Um país com tantos predicados de excelência, somado a um dose de caráter e outra de ética, marcaríamos o mundo com o nome BRASIL, HOJE sinônimo de VERGONHA!!! continuar lendo