Em protesto contra impeachment, professor italiano devolve distinção a governo Temer
'Infelizmente, o Cruzeiro do Sul esta apagado no momento', diz acadêmico italiano Massimo Canevacci em carta endereçada a Michel Temer
O antropólogo italiano Massimo Canevacci devolveu a Brasília a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta honraria concedida pelo governo a estrangeiros, em protesto contra o impeachment que afastou Dilma Rousseff do Poder.
Segundo a colunista Monica Bergamo, do jornal Folha de São Paulo, Canevacci expressou, em carta endereçada a Michel Temer, "a impossibilidade de manter este título".
Massimo Canevacci
5 septembre, 15:26 · São Paulo, État de São Paulo, Brésil ·
Ao Presidente da República Federativa do Brasil
Caro Temer,
Em 1994 – enquanto professor de Antropologia Cultural da Universidade de Roma “La Sapienza” – recebi o titulo de Comendador da "Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul". Na Embaixada do Brasil em Roma, e na frente de todo o corpo diplomático, o então Embaixador Carbonara me atribuiu esta honra, que ele mesmo havia solicitado. O Embaixador, homem de cultura, conhecia bem a minha pesquisa sobre São Paulo e, em particular, o meu livro "A Cidade Polifônica" - que continua sendo um texto básico para a interpretação da comunicação urbana. Posteriormente, segui pesquisando as culturas nativas presentes na área do Mato Grosso, e publiquei outros livros sobre a beleza das culturas do Brasil. Confesso que depois da votação parlamentar pelo impeachment contra a Presidenta Dilma, sinto a impossibilidade de manter este titulo. É, portanto, com grande tristeza que decido retornar esta honra ao Senhor. Prefiro não manter este tipo de vínculo com um Estado e com um Parlamento que - após o golpe militar de 1964 – continua produzindo valores contrários aos meus princípios republicanos. Infelizmente, o Cruzeiro do Sul esta apagado, no momento. Espero que seja apenas temporariamente.
Respeitosamente
Massimo Canevacci
Antropólogo italiano Massimo Canevacci devolve honraria (Flickr/Instituto Voz Cultura e Conhecimento)
O acadêmico ainda declarou que, apesar de sentir "grande tristeza", prefere "não manter este tipo de vínculo com um Estado e com um Parlamento que, após o golpe militar de 1964, continua produzindo valores contrários aos meus princípios republicanos".
"Infelizmente, o Cruzeiro do Sul esta apagado no momento. Espero que seja apenas temporariamente", conclui o italiano na missiva.
Professor aposentado da Universidade de Roma La Sapienza, o antropólogo, etnógrafo e escritor foi condecorado em 1995 pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.
A Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul é a mais alta honraria atribuída pelo governo brasileiro a estrangeiros e já foi dada a nomes que vão desde o revolucionário Ernesto "Che" Guevara à rainha Elizabeth II.
1 Comentário
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Que bom ter devolvido, nem deveria ter recebido. continuar lendo