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19 de Abril de 2024

Maria Lucia Fattorelli: Banqueiros capturaram o Estado brasileiro

Publicado por Carla
há 8 anos

Por Luiz Carlos Azenha 11 de agosto de 2013

O documento acima é oficialíssimo. Está nas páginas do Senado brasileiro. Leia a linha de número dois, sob Pago:

R$ 134 bilhões, 53 milhões, 618 mil e 451 reais.

É quanto você pagou em juros da dívida brasileira em 2012, segundo o governo (mas há controvérsias, sobre as quais você vai saber abaixo).

Agora leia a linha de número seis, sob Pago:

R$ 618 bilhões, 888 milhões, 549 mil e 837 reais.

É quanto você pagou em amortização/refinanciamento da dívida em 2012.

Uma enormidade, não?

Pois Maria Lucia Fattorelli acredita que, se houvesse uma auditoria, o valor devido poderia ter uma redução de até 70%.

Por que? A ex-auditora da Receita Federal está certa de que existem ilegalidades e irregularidades nas cobranças da dívida brasileira.

Para benefício dos banqueiros e prejuízo dos contribuintes.

Escrevo “contribuintes” porque a dívida é paga com dinheiro de nossos impostos. Tudo o que o Tesouro brasileiro faz é pendurar a conta em nosso nome: “procura o gerente” e entrega uma montanha de papéis assumindo que “devo, não nego, pago quando puder”. Com juros, muitos juros, razão de viver dos bancos.

Aqui, uma pausa importante: a mídia corporativa não tenta explicar tudo o que você vai ler e ouvir abaixo aos leitores, ouvintes e telespectadores. Por que? Porque os bancos são grandes patrocinadores. Por outro lado, mesmo os governos não gostam de falar do assunto. Quanto mais transparência, menor margem de manobra para os acertos de bastidores. Por isso, em geral os governos fazem de conta que o assunto é muito árduo, muito difícil de entender e que você não precisa se preocupar com isso. Ou seja, deve pagar a ficar quieto.

Mas, voltemos ao que interessa…

O poder dos banqueiros sempre foi imenso. Eles definem as regras nas duas pontas: desde as condições de emissão dos papéis em que prometemos pagar até as regras da cobrança.

Faturam com as comissões sobre as transações e com os juros. Juros altos interessam aos banqueiros. Quanto maiores, mais eles recebem emprestando ao governo.

E os cidadãos? Pagam a conta através dos impostos e ficam sem os serviços públicos que o dinheiro dado aos banqueiros poderia financiar. Sem o Metrô, os hospitais e as creches que o dinheiro gasto em juros poderia financiar.

Sob o peso da dívida — grosseiramente, R$ 3 trilhões em dívida interna e U$ 400 bilhões em dívida externa — o governo privatiza. Aliás, “concede”. Entrega parte da soberania.

Entrega à iniciativa privada — cujo objetivo principal, como o dos banqueiros, é o lucro — algo que poderia fazer, possivelmente mais barato, com recursos públicos, se o dinheiro não fosse usado para pagar ou rolar a dívida e os juros.

Concede portos e aeroportos. Facilita o acesso a recursos naturais. Em outras palavras, entrega o ouro.

Maria Lucia Fattorelli é coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, uma entidade que batalha para que o Brasil faça o mesmo que o Equador fez, em 2007 e 2008. Aliás, uma experiência sobre a qual Maria Lucia pode falar de cátedra. Ela foi convidada pelo presidente equatoriano Rafael Correa a fazer parte da CAIC, a Comissão de Auditoria Integral da Dívida Pública.

Resultado final? Boa parte da dívida equatoriana era ilegal. Não havia provas, por exemplo, de que o governo tinha de fato recebido os empréstimos pelos quais estava pagando. Ao fim e ao cabo, o presidente Correia reconheceu apenas 30% da dívida. Curiosamente, 95% dos bancos credores do Equador aceitaram fazer acordo com o governo e renunciaram a qualquer ação nos tribunais internacionais.

O Brasil tem hoje uma dívida externa de cerca de U$ 440 bilhões. Uma fatia razoável é de empresas privadas, que tomam dinheiro no Exterior. Mas Maria Lucia está certa de que a fatia pública desta dívida externa, em caso de auditoria, teria um cancelamento tão grande quanto a do Equador, dado que condições similares foram aplicadas ao mesmo tempo nos dois paises por banqueiros internacionais e que, em 1992, parte da dívida dos dois países prescreveu.

Prescreveu? Prescreveu e continuamos pagando?

Para entender melhor, ouça o trecho da entrevista em que Maria Lucia fala a respeito de seu trabalho no Equador:

https://w.soundcloud.com/player/?url=http%3A%2F%2Fapi.soundcloud.com%2Ftracks%2F104954813

Durante a gravação Maria Lucia fez duas promessas.

Primeiro, nomear os bancos norte-americanos que, através do Banco Central dos Estados Unidos, o Fed, controlam a taxa de juros que nos é cobrada na dívida externa, a Prime: Citibank, Chase Manhattan, Goldman Sachs, JP Morgan e Bank of America, entre outros. Já a Associação dos Banqueiros de Londres tem peso decisivo na definição da Libor, outra taxa importante no mercado.

A auditora também prometeu o gráfico abaixo:

A coluna azul é dos gastos sociais no Equador. A coluna vermelha é a do serviço da dívida pública. Notem como ela foi invertida nos últimos anos. É óbvio, mas não custa reafirmar: menos dinheiro pagando juros é mais dinheiro disponível para gastos sociais e investimento em infraestrutura.

Maria Lucia acha factível o Brasil fazer o mesmo que o Equador: “Se o Brasil toma uma iniciativa dessas, ele encoraja outros paises a enfrentar o esquema”. O “esquema” a que ela se refere é o sistema pelo qual os banqueiros passaram a capturar fundos públicos para turbinar seu poder no mundo.

No trecho seguinte da entrevista, ela explica que a origem da dívida interna brasileira, de quase R$ 3 trilhões, se deu no Plano Real, quando para combater a inflação o governo de FHC disparou a taxa de juros para atrair dinheiro de fora.

Desde então, acusa Maria Lucia, o Tesouro brasileiro comete ilegalidade ao emitir dívida para pagar juros, o que segundo ela é inconstitucional:

https://w.soundcloud.com/player/?url=http%3A%2F%2Fapi.soundcloud.com%2Ftracks%2F104959886

Maria Lucia Fattorelli também teve participação importante na Comissão Parlamentar de Inquérito da dívida, realizada no Congresso (veja todos os detalhes aqui), que gerou denúncias enviadas ao Ministério Público Federal.

Na CPI, algumas informações importantes foram levantadas.

Por exemplo: quem são os detentores dos títulos da dívida?

“Pessoa física mesmo quase não aparece no gráfico”, diz ela.

Mais da metade da dívida está nas mãos dos banqueiros.

Ou seja, numa ponta eles incentivam o governo a gerar dívida e faturam comissões vendendo a dívida; noutra, faturam com os juros da dívida. Que bom negócio!

Outro detalhe impressionante diz respeito ao arranjo que existe para a venda dos títulos brasileiros.

“O Tesouro, quando emite os títulos, somente um grupo privilegiado de doze instituições financeiras pode comprar esses títulos. Se eu, você, qualquer brasileiro quiser nós vamos ter de comprar através de uma corretora, de um intermediário”, conta Maria Lucia.

São os chamados “dealers”.

“Olha como o jogo funciona. O Tesouro emite. Se os juros não estão no patamar que eles querem, eles não compram. Por isso é que são os ‘dealers’, eles é que mandam. Antes, eles já se reúnem e já repartem, de tal forma que apenas um, no máximo dois vão participar de cada leilão, para não ter concorrência! Tudo muito bem repartido. É um esquema que a gente, quando descobre essas coisas… não é possível que a finança do País tá desse jeito!”

A lista acima é a dos “dealers” a que se referiu Maria Lucia.

E como é definida a taxa Selic, a principal taxa de juros do Brasil? Antes da trigésima sexta reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, houve uma consulta a “analistas independentes”.

Você que está nos lendo e paga a conta, foi consultado?

Ah, lógico que não.

Veja quem o BC ouviu, segundo Maria Lucia:

Caraca!, exclamaria você. Os banqueiros estão em todas as pontas do negócio.

Participam da emissão da dívida, influem nas taxas de juros e recebem a taxa de juros sobre a qual influem!

Estes são os motivos pelos quais Maria Lucia Fattorelli acredita num grande abatimento da dívida brasileira em caso de auditoria: ilegalidades, conflito de interesses e tráfico de influência, como registrado acima.

Ela faz um resumo neste trecho da entrevista:

https://w.soundcloud.com/player/?url=http%3A%2F%2Fapi.soundcloud.com%2Ftracks%2F104964055&color=ff6600&auto_play=false&show_artwork=true

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Maria Lucia opina que o Estado brasileiro hoje serve mais aos banqueiros que aos cidadãos que pagam a conta. Outra opinião capaz de causar um acalorado debate, mas desta vez na federação dos banqueiros, a Febraban, que costuma dizer que os bancos prestam um serviço público, sem admitir que fazem isso também às custas do dinheiro público.

Ouçam o trecho final da entrevista:

https://w.soundcloud.com/player/?url=http%3A%2F%2Fapi.soundcloud.com%2Ftracks%2F104970082

PS do Viomundo agora em 27/11/2013 com 10%

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4 Comentários

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A origem da divida interna brasileira estah no Plano Real do FHC.
Ateh a divida era irrisoria, mas para garantir o tal "controle de preços" - lembram-se? - abriram a possibilidade de importaçao. Para pagar essas importaçoes eram necessarios dolares, entao o entreguista do FHC que tambem estah por tras do Golpe de Estado em curso, louco para vender o resto que sobrou, aumentou os JUROS DA DIVIDA INTERNA em 40% dando de bandeja nossa soberania para o capital estrangeiro especulativo.
E eles estao querendo derrubar Dilma Roussef...
Agradecimentos a José Neto! Clap, Clap, Clap.
Dah uma tristeza quando a gente vê o quanto estamos desinformados...
Mas a gente vai chegar lah!
Dilma Roussef precisa voltar para a Presidência da REpublica imediatamente!
A globo jah estah com outro golpe dentro do golpe armado. Agora jah nao querem mais o Michel Temer porque tem o filme muito queimado.
Dilma na presidencia; golpistas sendo presos e a gente participando do governo como cidadaos e cidadas. continuar lendo

É isso, os bancos lucrando em cima do cidadãos brasileiros, que estão vivendo a crise, criada por eles. E todos estes bandidos que agora estão no poder, interinamente, cavando a cova para o Brasil quebrar. O (des) governo interino do temerário Temer não vai durar muito. Toda a podridão está vindo à tona e eles não prevalecerão. Fora traidores, ladrões e covardes!!! continuar lendo

Estou apoiando esta iniciativa da auditoria cidadã.E posso garantir que a maioria da sociedade não está ciente do maior crime e corrupção nas dívidas públicas interna e externa.Tenho acompanhado no congresso e no senado, alguns parlamentares principalmente o Deputado Federal Ivan Valente (PSOL), esta iniciativa de abertura desta auditoria da dívida.Somente para lembrar, estes juros que estão sendo cobrados são anticonstitucional conforme relatos de auditores federais e renomados juristas.Caso tenha alguma dúvida á respeito, gentileza entrar no site: www.auditoriacidada.org.br continuar lendo

Facinho, ne, José Neto?
Os banqueiros financiam as campanhas dos corruptos do Congresso Nacional, entao nao querem que a gente saiba de nada dessas dividas. Eh tao bonzinho ficar recebendo juros exorbitantes! E eh tao bonzinho ter corruptos e vendidos no Poder para privatizar nossa Soberania, roubar uma parte do dinheiro e dar o resto de volta para os banqueiros. Essa comilança nao acaba mais?
Eh por isso que cometem os crimes mais hediondos para se perpetuar no Poder.
Uma quadrilha! Todos tem que ir para a prisão por corrupçao entre outros crimes. continuar lendo