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19 de Abril de 2024

Golpe no Brasil: a conexão internacional

Fundada em 1981 com objetivo de “promover políticas econômicas do livre mercado pelo mundo”, a Atlas é um think-tank que financia declaradamente as atividades da direita em mais de 90 países. Com um orçamento anual de US$ 11,5 milhões, ela atua patrocinando a formação de quadros neoliberais.

Publicado por Carla
há 8 anos

Golpe no Brasil a conexo internacional Thomas Shannon, com quem Aloysio Nunes encontrou-se logo após o impeachment passar na Câmara. Ex-embaixador no Brasil, entre 2013 e 16, é agora o “número 3″ no Departamento de Estado

Pedro Marin

Auditórios cheios, carros de som, escritórios. Organizações como Instituto Millenium, Movimento Brasil Livre (MBL), Instituto Liberal, Instituto Ludwig Von Mises e Estudantes Pela Liberdade, como num passe de mágica, emergiram no cenário político brasileiro, publicando livros e realizando manifestações com enormes estruturas, treinamentos e palestras – um processo que encontrou terreno fértil no país, devido à crise mundial e à Operação Lava Jato.

Apesar das tentativas de seus fundadores e por parte da imprensa em pintar os projetos que defendem como algo “para o bem do Brasil”, oriundo “do povo brasileiro” e “espontâneo”, todas estas organizações contam com financiamento e articulação estrangeira, conforme detalhou a reportagem de Marina Amaral na Agência Pública, mostrando como uma rede de ONGs promove treinamento de lideranças, patrocina “intelectuais” para aglutinar consensos nas redes e movimentos para incendiar as ruas. Entre as organizações presentes na América Latina e leste europeu chama atenção, em especial, a Atlas Network.

Fundada em 1981 com objetivo de “promover políticas econômicas do livre mercado pelo mundo”, a Atlas é um think-tank que financia declaradamente as atividades da direita em mais de 90 países. Com um orçamento anual de US$ 11,5 milhões, ela atua patrocinando a formação de quadros neoliberais. Como a legislação dos EUA impede que essas entidades financiem agitações políticas mundo afora, cada movimento é amparado por “institutos de formação”, que estão liberados para receber os recursos. Esse é o caso da relação do centro de formação Estudantes pela Liberdade (EPL) com a militância profissional do MBL, por exemplo. O orçamento do EPL deste ano saltou para R$ 300 mil. “No primeiro ano, a gente teve mais ou menos R$ 8 mil, o segundo foi para R$ 20 e poucos mil, de 2014 para 2015 cresceu bastante. A gente recebe de outras organizações externas também, como a Atlas. A Atlas, junto com a Students for Liberty, são nossos principais doadores. No Brasil, as principais organizações doadoras são a Friederich Naumann, que é uma organização alemã, que não são autorizados a doar dinheiro, mas pagam despesas para a gente”, declarou Juliano Torres diretor executivo do EPL.

Na Ucrânia – onde em 2014 houve um golpe contra o Presidente eleito Viktor Yanukovich -, a Atlas financiou, por exemplo, o Centro de Liberdade Econômica Bendukidzke e o Centro Para Pesquisa Econômica e Social. O primeiro tem como membros o ex-Presidente da Georgia e atual governador de Odessa, Mikheil Saakashvili, além do vice-chefe da administração (pós-golpe) do Presidente Petro Poroshenko, Alexander Danyluk. O segundo é também financiado pela Open Society Foundation, do famoso especulador e homem das revoluções coloridas, George Soros, e tem como parceiros agências governamentais ucranianas, canadenses e inglesas, além da USAID (EUA) e o Banco Mundial.

Em 2014, a Atlas despejou US$ 4,5 milhões mundo afora em uma série de organizações mais ou menos similares, segundo o formulário 990, que as organizações filantrópicas têm de entregar a Receita Federal nos EUA. Somente na América Latina, foram alocados US$ 984 mil equivalente a R$ 3,9 milhões a organizações que seguem o pensamento de liberais como Milton Friedman, Hayek e Mises, e fazem oposição aos governos progressistas da região. É o caso de Cedice Libertad, da Venezuela, e de organizações como a norte-americana Human Rights Foundation, criada pelo venezuelano Thor Halvorssen, primo de Leopoldo López e filho de embaixador durante o governo de Andrés Pérez, que mira em especial os países com governos não-alinhados a Washington (Venezuela, Cuba, Rússia) e que se tornou conhecida em 2015 por criar uma campanha para lançar propaganda em território norte-coreano por meio de balões de gás.

A Atlas por sua vez também é financiada por uma série de grandes corporações e outras fundações. Empresas como Google, a gigante do petróleo Exxon Mobil e organizações como a DonorsTrust [1], State Policy Network, criada pelo empresário e conselheiro de Ronald Reagan Tom Roe, e a Charles G. Koch Foundation [3], ligada às famigeradas Indústrias Koch, são alguns dos nomes que colaboraram para que a Atlas, no ano de 2014, doasse mais de 10 milhões de dólares pelo mundo.

Uma revolução colorida para o Brasil?

É claro que é motivo para fazer soar os alarmes: a direita liberal cresce exponencialmente e combate num país com 31 anos de tradição democrática, de abismos sociais no campo e nas cidades, onde um partido governou nos últimos 12 anos com apoio maciço e manteve alianças com governos populares da região. Até a rua, historicamente monopolizada pela esquerda, foi tomada.

A isso se somam outras estranhíssimas casualidades: o juiz Sérgio Moro, há pouco responsável pelas fagulhas que incendiaram o país, fez em 2009 um “curso para potenciais líderes” nos EUA, patrocinado pelo Departamento de Estado. É também notável o fato de que no processo da Lava-Jato, somente empresas brasileiras tenham sido atingidas, ainda que diferentes denúncias contra companhias estrangeiras tenham sido feitas. Um dia após a aprovação do impeachment na Câmara dos Deputados o Senador Aloysio “quero ver ela sangrar” Nunes viajou para o quartel-general do poder global: Washington. Por lá, conforme revelou o colunista Mark Weisbrot, no Huffington Post, encontrou-se com o ex-embaixador dos EUA no Brasil e atual “número três” no escalão do Departamento de Estado, Thomas Shannon: “A disposição por parte de Shannon em encontrar-se com Nunes alguns dias depois da votação do impeachment envia um poderoso sinal de que Washington está com a oposição nesse empreendimento. Como sabemos disso? Muito simples, Shannon não precisava ter comparecido a esse encontro. Se ele quisesse mostrar que Washington estava neutro em relação a esse feroz e altamente polarizador conflito, ele não teria se encontrado com protagonistas notáveis de nenhum dos lados, especialmente nesse momento.”

Por fim, para o ansiedade dos desconfiados e o choque dos distraídos, é importante notar os laços que o Sr. Michel “quero jantar com Biden” Temer manteve com seus parceiros do norte. Em 19 de Junho de 2006, por exemplo, Temer – à época presidente do PMDB – encontrou-se com o cônsul-geral dos EUA no Brasil, em São Paulo, e respondeu a perguntas em relação às eleições, os candidatos, e seu partido. Diz o cônsul para Washington, em mensagem vazada pelo Wikileaks em 2011: “Tratando do destino de seu próprio partido, Temer confirmou que o PMDB não terá um candidato para a Presidência, e não entrará em nenhuma aliança formal com o PSDB ou o PT. […] O PMDB continua rachado quase ao meio entre grupos pró e contra Lula. O último busca alianças com o PT e busca diversos ministérios na segunda administração de Lula. Temer, que é anti-Lula, foi altamente crítico em relação à facção pró-Lula e falou com ironia em relação a algumas das divisões e contradições internas do partido.”

Para o cientista político e historiador Moniz Bandeira, os alarmes dispararam há muito tempo. “Essas manifestações que começaram no ano passado e antes da Copa não foram espontâneas. Foram preparadas antecipadamente, com elementos treinados, agitadores treinados”, diz ele, que em “A Segunda Guerra Fria” (Civilização Brasileira, 2013), descreve em detalhes o papel de certas ONGs e think-tanks nas chamadas revoluções coloridas pelo mundo. “O que é necessário no Brasil é que o governo faça como Putin: obrigue o registro de todas as ONGs, o registro do dinheiro que recebem, de onde recebem e como e onde aplicam.”

Moniz aponta como interesses norte-americanos a prevalência do dólar como moeda global – segundo ele, ameaçada pelo BRICS – e a inexistência de potências no continente. “É isto que os Estados Unidos não querem: que o Brasil tenha submarino nuclear, eles não querem uma potência na América do Sul – ainda mais ligada à China e à Rússia. E há um detalhe que o brasileiro não sabe: há uma luta pela moeda de reserva internacional. Porque o fato de que os EUA detém o direito de emitir o dólar o quanto queiram e ser o dólar a moeda internacional; é aí que repousa a hegemonia dos EUA. E o que a China e Putin querem acabar é com isso – daí a criação do modelo dos BRICS.”

[1] organização que possibilita doações anônimas para a “causa da liberdade”, criada pela Donors Capital Fund, considerada no relatório Fear, Inc uma das 10 maiores organizações contribuintes para o ódio contra islâmicos nos EUA)

[2] Em 2014 a fundação doou 25 mil dólares (cerca de 90,5 mil reais) à Atlas.

[3] A Koch Industries é uma empresa ligada ao setor do petróleo. Como Soros, os irmãos Koch são famosos por financiar instituições e revoluções coloridas pelo mundo.

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47 Comentários

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A direita liberal cresce exponencialmente porque a "esquerda progressista" é um fracasso total, veja o que fizeram na Argentina, no Brasil e a aula que a Venezuela nos dá de tudo QUE NÃO DEVEMOS fazer. E qual o problema de centros de pensamentos liberais? No Brasil sempre existiram vários de esquerda, veja aquela reunião de baboseiras que é o Foro de São Paulo, alguém fala em proibi-los? Fico muito feliz que as pessoas estejam se desprendendo desse ranço esquerdista, que onde se instala promove a pobreza e o atraso. continuar lendo

Dizer que a esquerda progressista é um fracasso total, parece desconectado com a realidade. Basta ver os números da economia e as realizações dos últimos governos para perceber a falácia desta afirmação. O problema dos centros de pensamento liberal é que são financiados pelo capital financeiro internacional que, certamente, não almejam o mecenato, mas retorno palpável mais à frente. continuar lendo

Então por isso afunda mais a crise entregando de bandeja nossos recursos a essa cambada de ienas. Já tivemos crise por do que essa onde nem feijão se podia comprar, hj a crise ainda se vê maracanã cheio, shows, olimpíadas e churrasquinho todo fim de semana. Concordo com vc a esquerda não presta mas por favor não defenda esses golpistas e entreguistas da direita. Ninguém presta mas não vamos aceitar entregar o Brasil nas mãos dessas rapinas, sanguessugas . A direita cresce ? Ah sim cresce pra baixo que nem rabo de cavalo. Coxinhas abram os olhos nessa política de hj só tem pilantras e só vê o STF fazendo varreduras , se liga continuar lendo

Sabe Luciana este tipo de pensamento tem de ser resolvido nas urnas, não com GOLPE...Se resolve com ESTUDO e assim aceitar que 40 milhões de pessoas sairam da pobreza e não o contrário como você afirma. Saber que 40 milhões de pessoas significam 4 vezes a população de Portugal, Hungria, Suécia, Áustria; significa 1 Espanha inteira e por aí vai. Matemática é uma ciência exata e agora me diga se foi fácil fazer isto???? Por favor se você já viajou e não foi para a Europa pense então em alimentar o equivalente a cem vezes (100 X) a cidade de Miami... continuar lendo

Ao povo ordeiro e trabalhador, aos aposentados que contribuiram pelos prazos determinados pelos governos através da Previdência Social, a todas as pessoas honestas que cumprem com suas obrigações e pagam em dia seus impostos, enfim a todos fazem a riqueza desse imenso país, o que importa memso, não é ser de "esquerda,direita,centro" ou coisa que o valha, o que importa mesmo é que queremos nos ver livres de Renan,Sarney,Color,Maluf,Cunha,Lobão,Aécio,Lula,Dilma, Barbalho, Marina,Hadad, e outros menos votados mas igualmente perigosos.O que queremos mesmo é uma nação de pessoas HONESTAS, com principios, queremos um
país sem corrupção, um país em que não se roube o sonho de nossas crianças.Não queremos saber de Obama,Putin, Maduro,Evo Morales, Fidel Castro e sua cambada, queremos uma nação com homens,mulheres e crianças, das quais possamos nos orgulhar, queremos um país sem Rede Globo manipulando a tudo e a todos, com uma programação de baixa categoria, queremos enfim um país do qual possamos nos orgulhar tanto na Educação,na Segurança como no desporto, sem pensar que somos de esquerda,direito ou de centro, isso talves nem seja tão importante assim.
Acho que é isso. continuar lendo

"coisas" só podem crescer exponencialmente, se "coisas" também exponencialmente, não crescerem. É justo o que arrazoa Edson Mostaço, porque "Direita" e "Esquerda", semiologicamente falando, não são antônimos cristalizados ou conceitos opostos, mas uma evidência de diferenciação de natureza, pois enquanto a primeira, como Categoria Racionalizadora, não leva em conta o fundamento do Humano, a segunda, ao contrário, não consegue significar o mundo, se não tiver o processo humanizador como centro. Daí é fácil entender, que com o apogeu do Keynianismo, o Desenvolvimentismo, a fetichização da mercadoria e os desperdícios da Economia de Mercado com o consumismo, o fato é que ingressamos numa nova era, espremidos por essa contingência da arquitetura social, que parece apontar para um razoável período de estagnação de Crescimento (no sentido de Mercado), até que sobrevenha um novo modelo de Sistema (Econômico ou não), que nos desperte desse tardio "pesadelo" Americano.... continuar lendo

Sempre a mesma choradeira da esquerda brasileira, inventando seus inimigos externos. Primeiramente detonam o país com sua incompetência socialista para a seguir por a culpa nos outros. continuar lendo

Muito esclarecedor o artigo. Espero que seja amplamente divulgado. Dada a ignorância de muitos brasileiros sobre os bastidores do poder, dada a ingenuidade de tantos outros, que não consegue perceber até onde chega o poder de manipulação social dos grupos economicamente poderosos quando em defesa de seus próprios interesses e, finalmente, dada a enorme hipocrisia e oportunismo de muitos "intelectuais" e profissionais de mídia que faturam alto para trabalharem como propagandista da ideologia liberal, julgo que este artigo mereceria ser matéria de sala de aula, para melhor ser explicado ao povo. continuar lendo

Ha ha ha. Sério que você esta comentando esse monte de baboseiras?
Vamos se a Carla se sustenta falando dos Think Tank de esquerda. Tudo corrupto! não sobra ninguem. Cansado dessa teoria da conspiração direitista. continuar lendo

"...seguem o pensamento de liberais como Milton Friedman, Hayek e Mises, e fazem oposição aos governos progressistas da região..."

É serio isso Governos Progressistas regionais? Onde? Cade?

Venezuela, Argentina (Kirschinista), Cuba, Equador, Bolívia ????

Onde está o progresso destes Estados ? Todos eles com suas economias em frangalhos (a Argentina já não tanto e a Venezuela, que Deus tenha piedade do seu povo), são belos exemplos do mal que as politicas POPULISTAS fazem a economia e a nação. Vide os R$ 170Bi de rombo aqui em terras tupiniquins.

Assim fica difícil acreditar em "teoria da conspiração neo liberal do dragão do norte".

Tenha a santa paciência. continuar lendo