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18 de Abril de 2024

Plano Estratégico é a receita do desmonte da Petrobrás

Publicado por Carla
há 8 anos

Por Pedro Argemiro

Redução de 25% nos investimentos, para US$ 74,1 bilhões em cinco anos. Confirmação da meta de US$ 19,5 bilhões em vendas de ativos nos próximos dois anos. Retirada integral da Petrobrás dos setores de produção de biocombustíveis, distribuição de gás de cozinha, produção de fertilizantes e das participações da estatal no segmento de petroquímica. O anúncio do Plano de Negócios e de Gestão 2017-2021 da companhia, elaborado pela gestão de Pedro Parente, causou preocupação entre aqueles que temem pelo futuro da empresa e, por extensão, pelo que ela representa para o desenvolvimento industrial brasileiro.

O atual plano é o primeiro sob a gestão de Pedro Parente, que assumiu a presidência da Petrobrás em junho. Ao divulgá-lo no último dia 20, o Conselho de Administração da Petrobrás informou que a venda de ativos e a redução dos investimentos – no plano anterior, anunciado em janeiro deste ano, o valor era de US$ 98,4 bilhões – tinham como objetivos buscar a “recuperação da solidez financeira” da empresa e reduzir sua dívida, sem precisar fazer novas captações no mercado financeiro. A empresa informou ainda que do valor total a ser investido até 2021, 82% (ou US$ 60,6 bilhões) seriam empregados em exploração e produção, “com ênfase em águas profundas”; 17% (ou US$ 12,4 bilhões) em refino e gás natural; e 1% (cerca de US$ 1,1 bilhão) no que chamou de demais áreas.

O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Felipe Coutinho, explica que ao propor a diminuição dos investimentos e a venda de ativos, o objetivo central do plano é a redução da alavancagem, termo financeiro para a razão entre a dívida líquida e a geração de caixa. Coutinho diz, porém, que a meta de redução é desnecessária. “A Petrobrás assume como meta a redução desta razão dos atuais 4,5 para 2,5 e reduz o prazo para atingi-la de 2020 para 2018. A meta de redução da alavancagem é arbitrária, uma decisão de natureza política e empresarial, que é apresentada como uma verdade científica ou uma revelação divina”, critica o presidente da Aepet.

Recentemente, a Aepet apresentou alternativas para a Petrobrás lidar com o atual endividamento, “preservando a integridade corporativa e sua capacidade de investir para garantir a segurança energética do Brasil”. A associação alerta que “a venda de ativos rentáveis pela Petrobrás compromete o fluxo de caixa futuro, entrega o mercado nacional aos competidores privados ou intermediários, fragiliza o desenvolvimento tecnológico soberano e transfere a propriedade de riquezas naturais finitas e estratégicas. A venda do petróleo do pré-sal, da infraestrutura de gasodutos, das unidades petroquímicas, dos terminais de GNL com as termelétricas associadas, da Liquigás Distribuidora de GLP e do controle da BR Distribuidora compromete o futuro da companhia.”

Também chamado de desinvestimento, o projeto de venda de ativos da Petrobrás, que ganhou novo fôlego no Plano de Negócios 2017-2021, vem sendo posto em prática com maior ênfase desde a posse de Pedro Parente, mas mesmo em administrações anteriores já vinha sendo alvo de críticas. O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino Pereira, afirma que o setor de petróleo no Brasil, atualmente, é objeto de desmanche, com clara motivação geopolítica. Segundo ele, o que ocorre hoje no Brasil é um processo de captura, pelo imperialismo, das reservas naturais que temos, de petróleo em primeiro lugar, a partir da descoberta, em 2006, “da maior reserva petrolífera das últimas três décadas no planeta, que se convencionou chamar de pré-sal.”

“A atual direção da Petrobrás, na verdade, é uma continuidade da direção anterior, do (Aldemir) Bendine, e mais ainda da Graça Foster. A partir da Graça Foster, a Petrobrás abandonou a visão que presidiu a sua criação e o seu desenvolvimento, passando por diferentes regimes políticos. A Petrobrás, desde que foi criada, foi âncora do desenvolvimento industrial brasileiro e, nesse papel, capacitou mais de 5 mil fornecedores, nacionais e estrangeiros e criou uma cadeia de empregos de cerca de 800 mil profissionais. Da administração Graça Foster para cá, a visão que prevalece na direção da Petrobrás é uma visão financeira de curto prazo. Porque a administração da Petrobrás se desfaz de ativos lucrativos e valiosos e de ativos que têm potencial lucrativo extraordinário”, afirma.

O presidente do Clube de Engenharia refere-se, neste caso, à recente venda do campo de Carcará, um desinvestimento que, de acordo com Pedro Celestino, só favorece a estatal norueguesa Statoil. Ele cita também a anglo-holandesa Shell, “que no ano passado, com o petróleo em queda, entrou no Brasil comprando ativos da Petrobrás.” “Vou dizer o que está escrito no plano: eles não têm o menor interesse na preservação do conteúdo local. Querem comprar onde for mais barato. Se for para desempenhar esse papel, não precisa ser estatal. É uma empresa privada como qualquer outra. Aliás, se isso se concretizar, teremos com a abertura do pré-sal a empresas estrangeiras a reprodução, no Brasil, de um modelo que não é aplicado no mundo desde a década de 1970”, afirma.

Na segunda-feira, em reunião com empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), para apresentar o Plano de Negócios, o presidente da Petrobrás fez duras críticas à política que obriga a estatal a usar conteúdo nacional em contratos de concessão para exploração de petróleo e gás, afirmando que tal política onera os preços dos contratos. Mas, de acordo com Celestino, as empresas instaladas no Brasil pagam salários, impostos, compram aqui e se integram à vida econômica e social brasileira. “As empresas que vêm dentro desse regime em que não há necessidade de contrapartida de conteúdo local não têm esse compromisso”, assinala.

O coordenador da Secretaria-geral do Sindipetro-RJ e diretor da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Emanuel Cancella, também faz duras críticas à intenção da Petrobrás de se retirar dos negócios ligados à petroquímica, aos fertilizantes, ao biocombustível e ao gás, conforme expresso no Plano de Negócios. Só para se ter uma ideia, a Petrobrás acaba de fechar um acordo para vender 90% de sua participação na unidade de gasodutos Nova Transportadora do Sudeste (NTS), uma rede de dutos com 2,5 mil quilômetros na região mais desenvolvida do Brasil, para um grupo de investidores do Canadá, China e Cingapura, liderados pela canadense Brookfield Asset Management, por US$ 5,2 bilhões.

“É um retrocesso. Esses setores são fundamentais para o país e para a categoria petroleira. O Brasil está descobrindo reservas gigantescas de gás. E nós, que nas regiões mais desenvolvidas, Sul e Sudeste, já temos gás canalizado, temos a possibilidade de levar o insumo para outras regiões do Brasil. E aí o presidente diz que vamos sair desse setor. E diz mais em relação ao gás: vai vender a malha do Sudeste, que talvez seja, senão a maior, uma das mais valiosas malhas de dutos do mundo. Vamos aprofundar a crise, daqui para adiante, se vendermos a malha sudeste, vamos ter que pagar para usar”, alerta Cancella.

Ele cita, ainda, a decisão de deixar o setor petroquímico, o “filé mignon da indústria do petróleo, responsável pela produção de mais de 3 mil artigos, entre smartphones, notebooks, televisores, tênis e componentes de veículos. Já a Aepet, que também considera equivocada a decisão, diz que a distribuição do GLP é uma atividade rentável na qual a Petrobras, através da Liquigás, é líder do mercado. A venda da Liquigás, para a associação, compromete o fluxo de caixa futuro e arrisca a formação de um cartel privado pela concentração do setor. A Aepet diz ainda que é preciso fortalecer a Petrobrás Biocombustível, reavaliando o seu modelo de negócios para que tenha acesso às matérias primas com custos mais baixos e próximos aos custos de produção.

“As medidas que estão sendo tomadas são similares as adotadas pelas multinacionais privadas desde a década de 1970, com resultados medíocres. As maiores multinacionais de capital privado do setor do petróleo não repõem suas reservas na taxa que são esgotadas, têm produção declinante, apresentam resultados financeiros fracos, e perderam boa parte de sua capacidade tecnológica, ao terceirizar suas atividades às empresas prestadoras de serviço. Em uma palavra, definham. Entre as principais causas, a adoção de modelo de negócios baseado em premissas falsas, com objetivo de maximizar o valor para o acionista no curto prazo, com precária visão estratégica ao não compreender o ambiente de negó- cios, seguindo bovina e consensualmente planos similares baseados em informa- ções de “consultorias independentes”, ao negar restrições socioeconômicas, além de ignorar limites naturais. Caso a Petrobrás adote modelo parecido terá o mesmo destino, em breve”, afirma Felipe Coutinho, da Aepet.

O mesmo temor foi expresso pelo presidente do Clube de Engenharia. “Sabe o que vai acontecer com a Petrobrás daqui a quatro anos se esta proposta prosperar? Vai ser apenas uma produtora de óleo bruto como são as (estatais) do Equador, do Gabão ou da Guiné. São produtoras de petróleo bruto e importam o resto. Ela (a Petrobrás) está querendo sair da petroquímica, da logística, de toda a cadeia que agrega valor ao petróleo bruto. E está abandonando a exploração. Porque dos gastos que se propõe a fazer em explora- ção e produção, 87% são na produção e 11% na exploração. Então, ela deixa de explorar petróleo e quem faz isso deixa de produzir mais adiante. Nós já vimos esse filme antes. No final do segundo mandato Fernando Henrique Cardoso, a Petrobrás estava numa situação em que teria que importar necessariamente para o consumo interno 800 mil barris/dia”, diz Pedro Celestino.

O Sindipetro-RJ, porém, está atento a toda essa movimentação e prepara ações judiciais contra a venda de ativos da Petrobrás e, ao mesmo tempo, mobiliza a categoria em relação à greve dos petroleiros. “Já existem várias ações judiciais – porque o Pedro Parente já foi envolvido em várias negociatas, que envolvem termelétricas. Então, tem ações não só contra ele, mas também contra a presidente do BNDES, a Maria Sílvia (Bastos), que também era do governo FHC. Vamos entrar com ações em relação ao campo de Carcará, à venda da BR e à venda da malha do Sudeste. Agora, o mais importante é a greve que vamos fazer – no ano passado fizemos uma greve de 23 dias, quando queriam oferecer só a metade da inflação e retirar vários itens do nosso acordo. Dessa vez, além da questão salarial – porque a proposta consegue ser mais ridícula do que a anterior, a do Bendine – estamos discutindo com a categoria e ela está abraçando a greve contra a venda de ativos, contra todas essas negociatas, como o campo de Carcará e a venda da malha do Sudeste. A greve também vai ser contra esse entreguismo”, finaliza Emanuel Cancella.

Aepet

http://www.aepet.org.br/noticias/página/13822/Plano-Estratgicoareceita-do-desmonte-da-Petrobrs

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